2011-12-29

O futuro dos portugueses

Quando se olhar em retrospectiva para o ano que vai findar, alguns destacarão 3 personagens que se erguem do esquecimento, por obra e acto de coragem no mundo globalizado em que hoje vivemos:

aquele tunisino que se imolou, Mohamed Bouazizi , em desespero de causa e pura e estrita sensação de impotência perante a vida que lhe (não) era permitida no seu País e que, por via do seu acto, incendiou milhões de outras consciências, dentro e fora da sua terra;

aquele checoslovaco, Jan Palach , que, já idos 44 anos, fez o mesmo, perante a ignomínia e o desespero pela invasão do exército do império de leste, e pelo abandono a que foram votados pelo mundo e que fez com que muitos dos seus concidadãos ajoelhassem, rendessem, traissem ou emigrassem, enchendo de vergonha todos os que olharam para o lado;

O Anónimo, aquele que luta por todos os que não lutam, por todos os que não podem, por todos os que não sabem e por todos os que não querem TRAIR a sua dignidade pessoal e cidadã, contra os tigres-de-papel, moínhos-de-vento e crápulas de todos os matizes, assassinos de consciências, ladrões de alma, grandes manipuladores da mentira, da meia-verdade, do quarto-de-verdade a que querem submeter a Humanidade.

Parece pouco. Parece imenso. Parece, e é, ambas as coisas.

Ao olhar para este buraco envenenado pela cobardia, pela ignorância, pela religião católica, pela desonra, pela impunidade de quase qualquer um perante a afronta à Lei e às pessoas comuns, verificar que há, ainda, quem ouse resistir contra o opróbrio de mais uma taxa injusta e imoral como é a cobrança forçada de portagens em estradas nacionais que já estão pagas, que não têem alternativa razoável para os utentes, é um facto a registar;
a norte, os homens que dizem noutras andanças que "até os comemos", comem e calam.
Como comem e calam, quase todos, o saque que se verifica há anos por parte da EDP na electricidade, pela GALP na energía fóssil, pelas diversas PT nas telecomunicações, pela generalidade dos Bancos que sobrecarregam com taxas inventadas à última hora os seus mais simples e modestos clientes, a água...
a água que nos é roubada enquanto nação, que nos é vendida a preço de ladrão, com taxas permitidas pelos deputados de uma Assembleia da República criminosamente silenciosa e que assinou de olhos fechados todo este esbulho ao cidadão comum que, noutras paragens, já teria dado origem a um levantamento nacional !

Nada disto parece ser suficiente para levantar o zé-ninguém, o trabalhador sindicalizado, o intelectual e o artista, o desempregado-duracell, o jovem sem futuro...o reformado esbulhado no fim da vida.
Muitos continuam a dirigir-se a Fátima como panaceia para os seus problemas, mas aos problemas dos homens não há recordação de que deus algum os resolveu sem a acção consciente, firme, empenhada e corajosa dos submissos: o Caminho terá que ser para outros lugares, a começar por Lisboa.

O caso português terá que ser, um dia, analisado à luz da psicanálise, tal como W. Reich o fez relativamente aos alemães em 1948 com o livro "Escuta, Zé-ninguém".

De facto, como é que um povo que tanto se queixa dos políticos, dos males da sociedade, das instituições instituidas, da pequenez do país, dos partidos políticos, do presidente, da misericórdia, da casa-pia, da troika, das dívidas, pode desfazer o que fez, refazer o que está feito, fazer o que é preciso?

As palavras em Portugal saem sempre mais baratas que em qualquer outro lado e mesmo eu, nesta hora, estou um pouco farto de escrever, de ouvir ou de falar; neste buraco fala-se demais , sobre coisa nenhuma, sobre gente mínima e um degrau acima da imbecilidade, mas nada de relevante e permanente se faz para bem da...comunidade.
Com excepção da merda, claro. Essa, vão os portugueses continuar a fazer para o ano e seguintes com uma vantagem:


VÃO TER QUE A COMER.

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