2018-12-21

COLETES.

É Inverno.
Nas profundezas da terra vulcões alimentam-se da energia elementar. Essa, soltar-se-á quando o entender. Nada a parará. Quem se propuser enfrentá-la será destruído. O ser-humano assiste há milénios a essa luta perene entre o Fogo e o Gelo. A esse propósito, dou lugar ao grande Jorge de Sena:



A Portugal
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
Nem minha amada, porque é só madrasta. A pouca sorte de nascido nela.
quanto esse arroto de passadas glórias.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta Amigos meus mais caros tenho nela, saudosamente nela, mas amigos são
de esgoto atlântico; irrisória face
por serem meus amigos, e mais nada. Torpe dejecto de romano império; babugem de invasões; salsugem porca de lama, de cobiça, e de vileza,
terra de funcionários e de prostitutas,
de mesquinhez, de fatua ignorância; terra de escravos, cu pró ar ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto; devotos todos do milagre, castos
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
nas horas vagas de doença oculta; terra de heróis a peso de ouro e sangue, e santos com balcão de secos e molhados no fundo da virtude; terra triste
terra-museu em que se vive ainda,
cheia de afáveis para os estrangeiros que deixam moedas e transportam pulgas, oh pulgas lusitanas, pela Europa; terra de monumentos em que o povo assina a merda o seu anonimato;
como esses sentimentos de oito séculos
com porcos pela rua, em casas celtiberas; terra de poetas tão sentimentais que o cheiro de um sovaco os põe em transe; terra de pedras esburgadas, secas de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém: eu te pertenço. És cabra, és badalhoca, és mais que cachorra pelo cio, és peste e fome e guerra e dor de coração. Eu te pertenço mas seres minha, não



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